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Will
Crédito: Associated Press.

Por Dario Klein

Em 11 de setembro de 2001, milhares de pessoas correram para salvar sua vida em Nova York. Muitas conseguiram; outras morreram nos incêndios ou soterradas sob os escombros de vidro, metal e concreto que caíram das Torres Gêmeas durante o desabamento. Alguns, prevendo uma morte dolorosa, preferiram saltar dos prédios e se suicidaram. O resumo é terrível, um dos maiores atentados terroristas da História ainda está fresco na memória da humanidade.

Dez anos se passaram desde o dia que marcaria o começo de uma nova era. Com o tempo, os relatos tristes daquela experiência deram lugar a histórias, que permitiram recordar o passado com orgulho e olhar para o futuro com esperança. Esta é a história de William Jimeno, o policial que quase morreu tentando salvar pessoas nas Torres Gêmeas, e que viu sua história ser contada em um filme.

Como muitos imigrantes, Jimeno apostou tudo no “sonho americano”: criar uma família, comprar uma casa e servir ao país que adotou desde criança, quando chegou com seus pais da Colômbia para se instalar em Nova Jersey.

Sua história era a de muitos latinos nos Estados Unidos: estudou, trabalhou, serviu como militar e depois, por vocação, seguiu carreira na polícia. Totalmente integrado à sociedade norte-americana, casou-se com Allison e teve sua primeira filha, Bianca.

Esta terça-feira de dez anos atrás começou como qualquer outro para este homem, então com 33 anos, que trabalhava como policial da Autoridade Portuária, força encarregada da segurança dos transportes em Nova York.

Jimeno levantou-se às 5 da manhã, tomou um banho, e antes de sair de sua casa, a meia hora de Manhattan, beijou Bianca e o ventre de Allison, grávida de sete meses e esperando outra menina.

“Sempre digo isso a todos, eu saía de casa feliz todos os dias porque adorava meu trabalho”, afirma.

Neste dia, sua vida mudaria para sempre.

Jimeno estava de serviço entre a Rua 42 e a Oitava Avenida, colaborando para organizar o frenético trânsito de passageiros, quando recebeu a ordem de retornar ao quartel da corporação e embarcar em um ônibus para o World Trade Center. Recebeu poucas informações, mas o mundo já sabia que um avião havia se chocado contra a Torre Sul do complexo.

Antes de partir, ele ligou para sua esposa para dizer que estava bem. Em seguida, seguiu com seus companheiros para o WTC, sem saber do destino fatídico que os aguardava e do qual escaparia milagrosamente.

Jimeno e seu grupo chegaram ao local pela avenida Broadway. O cenário era de cinema catástrofe: “Havia no mínimo 30, 40 policiais ali. Não havia mais nada de concreto naquele lugar, havia muitas coisas espalhadas, partes do avião. Quando olhamos para cima, um dos nossos oficiais disse ‘olhem, estão se jogando’; os buracos eram enormes, saía fumaça e vimos pessoas se atirando. Eu senti uma dor muito grande, porque meu sonho era ser policial para ajudar as pessoas, e naquele momento, eu não podia fazer nada”.

Christopher Amoroso, Dominique Pezzulo, Antonio Rodríguez e Jimeno formaram uma equipe comandada pelo sargento John McLoughlin.

Os cinco tentaram entrar por um espaço destinado a lojas na Torre Norte para retirar as pessoas do local. Sem saber que um segundo avião havia arremetido contra a outra torre, os homens seguiram juntos para os andares inferiores, até que um estrondo os sacudiu e atirou longe: a Torre Sul havia desabado. Pedaços de blocos de concreto voaram pelos ares, matando Amoroso e Rodríguez.

Jimeno ficou preso sob uma parede, quase imobilizado. O chefe da equipe, o sargento McLoughlin, ficou soterrado um pouco abaixo, com as pernas presas nos escombros.

Peluzzo conseguiu se libertar e lutou arduamente para libertar Jimeno, para em seguida, resgatar o sargento. Seus esforços foram em vão: Jimeno recorda que seu companheiro poderia te escapado com vida se tivesse saído por uma abertura entre os escombros. Mas durante a tentativa desesperada de ajudá-los, um pedaço de concreto matou Peluzzo. Jimeno o escutou falar pela última vez antes de falecer.

Jimeno e McLoughlin permaneceram soterrados durante horas. Ambos se conheciam pouco. Jimeno estava há menos de seis meses na Autoridade Portuária, enquanto McLoughlin era um oficial experiente.

À beira da morte e sentindo dores insuportáveis, os dois homens travaram um diálogo que a imprensa transformaria em lenda. Falaram de suas famílias e da vida que levavam. Confessaram segredos, convencidos de que iriam morrer.

Muito religioso, Jimeno diz ter conversado com Deus, agradecendo por ter conhecido sua filha, Bianca, e por tudo o que havia vivido em 33 anos de existência. Também pensou na filha que ainda não nascera e que pensava jamais conhecer.

Em seu desespero, fez um gesto comovente: pôs-se de braços cruzados, na posição que adotava para dizer à esposa e à filha “I love you”.

“Naquele momento, a única coisa que podia fazer era cruzar os braços. Eu pensei, ‘se eu morrer assim e conseguirem me encontrar, Allison saberá que eu estava pensando nela e em minhas filhas, e que eu as amo”.

Segundo versões publicadas na imprensa, Jimeno teria ficado soterrado durante 13 horas, e seu sargento, 21, antes de serem resgatados e levados gravemente feridos para um hospital. Ambos se recuperaram depois de vários meses de fisioterapia e cirurgias de reconstrução.

Hoje os dois policiais se aposentaram. Sua história chegou ao cinema pelas mãos do diretor Oliver Stone, no filme “As Torres Gêmeas”, com Nicolas Cage no papel do sargento McLoughlin e Michael Peña como o oficial Jimeno.

O filme estreou em 2006, cinco anos depois dos ataques que custaram a vida de quase 3.000 pessoas.

Jimeno protagonizou vários documentários, onde relata sua incrível odisseia. O site Internet Movie DataBase lista pelo menos três produções em 2006: “Building Ground Zero”; “Common Sacrifice” e “The Making of World Trade Center”.

No especial do Discovery Channel, “Viver para contar: Torres Gêmeas”, Jimeno narra sua história de heroísmo, sobrevivência, trabalho de equipe e superação.

Agora, uma década após os ataques, Jimeno prefere deixar uma mensagem positiva: “Lembro-me de uma coisa que gostaria que as pessoas soubessem (…) o que vi naquelas pessoas foi muito amor (…) Para o mundo, foi um dia trágico,  mas (…) dentro daquelas torres, havia muito amor e muita gente se ajudando”.

Hoje, Will Jimeno tem 43 anos. Por sua atuação, recebeu a Medalha de Honra da Autoridade Portuária de Nova York, a maior distinção por mérito da corporação.
6.09.2011

Por que devemos relembrar o 11/9?




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Crédito: Jupiter images/Thinkstock
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Dez anos depois, muitos americanos ainda se lembram nitidamente dos terríveis eventos de 11 de setembro de 2001. Aviões se espatifando contra o World Trade Center; pessoas pulando de janelas a centenas de metros de altura; milhares de civis fugindo do centro de Manhattan a pé. São imagens difíceis de esquecer.

Por outro lado, a maioria das pessoas que ficaram grudadas no noticiário durante vários dias em 2001, hoje raramente pensam naquele dia fatídico. E as pessoas que moram longe do local ou eram novas demais na época talvez não entendam muitos dos detalhes dos ataques.

É um fenômeno clássico que se repete ao longo de anos de guerras e traumas, garantem os historiadores. Em meio a eventos trágicos, as pessoas têm certeza de que o mundo jamais será o mesmo. Mas à medida que os anos e as gerações passam, a vida cotidiana volta ao normal para a maioria das pessoas. As influências políticas e culturais gradualmente transformam nossas memórias da história ao longo de décadas.

Enquanto os conflitos no Iraque e Afeganistão continuarem, ainda é cedo para saber se o 11/9 será relembrado ou mesmo se as gerações futuras irão homenagear a data.

"Podemos deixar as desavenças políticas de lado quando lemos os nomes do 11/9, e voltar 364 dias no ano para questionar se devíamos ter feito isto ou aquilo”, afirma Gavriel Rosenfeld, historiador da Universidade de Fairfield em Connecticut. "Tudo se resume ao fato de que a história definitiva do 11/9 não foi escrita, já que ainda a estamos vivendo”.

Contudo, a História sugere – para o bem ou para o mal – que uma narrativa cultural de esperança e otimismo deve, por fim, prevalecer, afirma Alvin Rosenfeld, autor de "The End of the Holocaust" (O Fim do Holocausto, em tradução livre) e professor de Estudos Ingleses e Judaicos da Universidade de Indiana, que também é pai de Gavriel Rosenfeld.

Para exemplificar, Alvin menciona Anne Frank. Embora tenha sofrido terrivelmente durante o Holocausto, todos os filmes e peças americanos feitos sobre ela eram calcados em uma das raras linhas animadoras de seu diário: "Apesar de tudo, ainda acredito que as pessoas tenham um bom coração".

"Se isso é comparável à forma como a memória do Holocausto evolui coletivamente, nós nos lembraremos (do 11/9), mas o tempo tende a dissipar a amargura”, reflete Alvin Rosenfeld. "Os americanos tendem a desejar que as coisas acabem bem, não mal. Gostamos de finais felizes, valorizamos demais a esperança. Não queremos nos deter no passado, especialmente se ele for terrível como o Holocausto e o 11/9/".

Não há um consenso de que a tendência dos americanos de transformar escombros em esperanças seja uma coisa boa. Alguns especialistas a consideram uma atitude ingênua; outros, uma forma de superação.

Mas o otimismo do nosso país aponta claramente para a diferença entre história e memória. E os eventos do 11 de setembro de 2001 podem ter introduzido um espinho naquela disposição eternamente edificante, reflete Gavriel Rosenfeld.

Ele menciona reavaliações recentes da Segunda Guerra, que sempre foi lembrada como uma “guerra boa”.  Atualmente, muitos especialistas estão começando a questionar a verdade subjacente ao termo, argumentando que teria sido muito melhor se não tivéssemos sequer entrado na guerra.

"Creio que o 11/9 foi um divisor de águas no tocante à forma como reavaliamos certos aspectos da história”, afirma Gavriel Rosenfeld. "Desde o 11/9, há um novo ceticismo em relação ao envolvimento da América nas questões globais e ao uso do poder político para atingir seus objetivos”.

Estudos sobre o Holocausto oferecem outras percepções e ajudam a avaliar se o 11/9 será lembrado ou esquecido dentro de 80 anos. Ambos os eventos são considerados atos chocantes e impensáveis, que ocasionaram a perda de muitas vidas inocentes. Mas se comparado às quase 3.000 pessoas que morreram nos ataques do 11 de setembro há dez  anos, o Holocausto ocorreu em escala bem maior, matando quase seis milhões de judeus ao longo de mais de uma década.

Ainda assim, muitas pessoas desconhecem ou se esquecem de muitos detalhes daqueles anos terríveis, afirma Lawrence Langer, autor de "Holocaust Testimonies: The Ruins of Memory" (Depoimentos do Holocausto: As Ruínas da Memória, em tradução livre)

Em uma das maiores atrocidades do Holocausto em 1941, por exemplo, mais de 33 mil judeus foram mortos a tiros e sepultados em valas comuns, durante dois dias e duas noites em Babi Yar, na Ucrânia. Entretanto, poucas pessoas conhecem esse incidente. Dependendo da forma como os atentados de 11/9 se encaixarem em um contexto histórico e político mais amplo, aquele dia terrível também pode desaparecer da nossa memória coletiva.

É fundamental que lutemos para recordar as atrocidades do passado, afirma Langer, e não porque isso evitará futuras tragédias, mas porque os atos de ouvir, aprender e recordar são passos importantes no desenvolvimento da empatia por outros indivíduos e culturas.

Preservar as memórias de eventos traumáticos também ajuda a validar a experiência das pessoas que sofreram diretamente.

"Conhecer um evento histórico faz parte do processo de se tornar uma pessoa civilizada e educada”, afirma Langer, que entrevistou mais de 80 sobreviventes do Holocausto e assistiu a entrevistas com mais de cem.

"As pessoas que entrevistei contam suas histórias porque querem que o mundo saiba o que aconteceu a elas", pontua.  "O fato de alguém saber e se importar com isso valida sua experiência. Não lhe confere significado, mas se ninguém se importa, você é relegado ao esquecimento. Se não recordamos o que aconteceu no 11/9, é como se não tivesse acontecido”.

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