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Will
Crédito: Associated Press.

Por Dario Klein

Em 11 de setembro de 2001, milhares de pessoas correram para salvar sua vida em Nova York. Muitas conseguiram; outras morreram nos incêndios ou soterradas sob os escombros de vidro, metal e concreto que caíram das Torres Gêmeas durante o desabamento. Alguns, prevendo uma morte dolorosa, preferiram saltar dos prédios e se suicidaram. O resumo é terrível, um dos maiores atentados terroristas da História ainda está fresco na memória da humanidade.

Dez anos se passaram desde o dia que marcaria o começo de uma nova era. Com o tempo, os relatos tristes daquela experiência deram lugar a histórias, que permitiram recordar o passado com orgulho e olhar para o futuro com esperança. Esta é a história de William Jimeno, o policial que quase morreu tentando salvar pessoas nas Torres Gêmeas, e que viu sua história ser contada em um filme.

Como muitos imigrantes, Jimeno apostou tudo no “sonho americano”: criar uma família, comprar uma casa e servir ao país que adotou desde criança, quando chegou com seus pais da Colômbia para se instalar em Nova Jersey.

Sua história era a de muitos latinos nos Estados Unidos: estudou, trabalhou, serviu como militar e depois, por vocação, seguiu carreira na polícia. Totalmente integrado à sociedade norte-americana, casou-se com Allison e teve sua primeira filha, Bianca.

Esta terça-feira de dez anos atrás começou como qualquer outro para este homem, então com 33 anos, que trabalhava como policial da Autoridade Portuária, força encarregada da segurança dos transportes em Nova York.

Jimeno levantou-se às 5 da manhã, tomou um banho, e antes de sair de sua casa, a meia hora de Manhattan, beijou Bianca e o ventre de Allison, grávida de sete meses e esperando outra menina.

“Sempre digo isso a todos, eu saía de casa feliz todos os dias porque adorava meu trabalho”, afirma.

Neste dia, sua vida mudaria para sempre.

Jimeno estava de serviço entre a Rua 42 e a Oitava Avenida, colaborando para organizar o frenético trânsito de passageiros, quando recebeu a ordem de retornar ao quartel da corporação e embarcar em um ônibus para o World Trade Center. Recebeu poucas informações, mas o mundo já sabia que um avião havia se chocado contra a Torre Sul do complexo.

Antes de partir, ele ligou para sua esposa para dizer que estava bem. Em seguida, seguiu com seus companheiros para o WTC, sem saber do destino fatídico que os aguardava e do qual escaparia milagrosamente.

Jimeno e seu grupo chegaram ao local pela avenida Broadway. O cenário era de cinema catástrofe: “Havia no mínimo 30, 40 policiais ali. Não havia mais nada de concreto naquele lugar, havia muitas coisas espalhadas, partes do avião. Quando olhamos para cima, um dos nossos oficiais disse ‘olhem, estão se jogando’; os buracos eram enormes, saía fumaça e vimos pessoas se atirando. Eu senti uma dor muito grande, porque meu sonho era ser policial para ajudar as pessoas, e naquele momento, eu não podia fazer nada”.

Christopher Amoroso, Dominique Pezzulo, Antonio Rodríguez e Jimeno formaram uma equipe comandada pelo sargento John McLoughlin.

Os cinco tentaram entrar por um espaço destinado a lojas na Torre Norte para retirar as pessoas do local. Sem saber que um segundo avião havia arremetido contra a outra torre, os homens seguiram juntos para os andares inferiores, até que um estrondo os sacudiu e atirou longe: a Torre Sul havia desabado. Pedaços de blocos de concreto voaram pelos ares, matando Amoroso e Rodríguez.

Jimeno ficou preso sob uma parede, quase imobilizado. O chefe da equipe, o sargento McLoughlin, ficou soterrado um pouco abaixo, com as pernas presas nos escombros.

Peluzzo conseguiu se libertar e lutou arduamente para libertar Jimeno, para em seguida, resgatar o sargento. Seus esforços foram em vão: Jimeno recorda que seu companheiro poderia te escapado com vida se tivesse saído por uma abertura entre os escombros. Mas durante a tentativa desesperada de ajudá-los, um pedaço de concreto matou Peluzzo. Jimeno o escutou falar pela última vez antes de falecer.

Jimeno e McLoughlin permaneceram soterrados durante horas. Ambos se conheciam pouco. Jimeno estava há menos de seis meses na Autoridade Portuária, enquanto McLoughlin era um oficial experiente.

À beira da morte e sentindo dores insuportáveis, os dois homens travaram um diálogo que a imprensa transformaria em lenda. Falaram de suas famílias e da vida que levavam. Confessaram segredos, convencidos de que iriam morrer.

Muito religioso, Jimeno diz ter conversado com Deus, agradecendo por ter conhecido sua filha, Bianca, e por tudo o que havia vivido em 33 anos de existência. Também pensou na filha que ainda não nascera e que pensava jamais conhecer.

Em seu desespero, fez um gesto comovente: pôs-se de braços cruzados, na posição que adotava para dizer à esposa e à filha “I love you”.

“Naquele momento, a única coisa que podia fazer era cruzar os braços. Eu pensei, ‘se eu morrer assim e conseguirem me encontrar, Allison saberá que eu estava pensando nela e em minhas filhas, e que eu as amo”.

Segundo versões publicadas na imprensa, Jimeno teria ficado soterrado durante 13 horas, e seu sargento, 21, antes de serem resgatados e levados gravemente feridos para um hospital. Ambos se recuperaram depois de vários meses de fisioterapia e cirurgias de reconstrução.

Hoje os dois policiais se aposentaram. Sua história chegou ao cinema pelas mãos do diretor Oliver Stone, no filme “As Torres Gêmeas”, com Nicolas Cage no papel do sargento McLoughlin e Michael Peña como o oficial Jimeno.

O filme estreou em 2006, cinco anos depois dos ataques que custaram a vida de quase 3.000 pessoas.

Jimeno protagonizou vários documentários, onde relata sua incrível odisseia. O site Internet Movie DataBase lista pelo menos três produções em 2006: “Building Ground Zero”; “Common Sacrifice” e “The Making of World Trade Center”.

No especial do Discovery Channel, “Viver para contar: Torres Gêmeas”, Jimeno narra sua história de heroísmo, sobrevivência, trabalho de equipe e superação.

Agora, uma década após os ataques, Jimeno prefere deixar uma mensagem positiva: “Lembro-me de uma coisa que gostaria que as pessoas soubessem (…) o que vi naquelas pessoas foi muito amor (…) Para o mundo, foi um dia trágico,  mas (…) dentro daquelas torres, havia muito amor e muita gente se ajudando”.

Hoje, Will Jimeno tem 43 anos. Por sua atuação, recebeu a Medalha de Honra da Autoridade Portuária de Nova York, a maior distinção por mérito da corporação.
6.09.2011

Por que devemos relembrar o 11/9?




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Crédito: Jupiter images/Thinkstock
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Dez anos depois, muitos americanos ainda se lembram nitidamente dos terríveis eventos de 11 de setembro de 2001. Aviões se espatifando contra o World Trade Center; pessoas pulando de janelas a centenas de metros de altura; milhares de civis fugindo do centro de Manhattan a pé. São imagens difíceis de esquecer.

Por outro lado, a maioria das pessoas que ficaram grudadas no noticiário durante vários dias em 2001, hoje raramente pensam naquele dia fatídico. E as pessoas que moram longe do local ou eram novas demais na época talvez não entendam muitos dos detalhes dos ataques.

É um fenômeno clássico que se repete ao longo de anos de guerras e traumas, garantem os historiadores. Em meio a eventos trágicos, as pessoas têm certeza de que o mundo jamais será o mesmo. Mas à medida que os anos e as gerações passam, a vida cotidiana volta ao normal para a maioria das pessoas. As influências políticas e culturais gradualmente transformam nossas memórias da história ao longo de décadas.

Enquanto os conflitos no Iraque e Afeganistão continuarem, ainda é cedo para saber se o 11/9 será relembrado ou mesmo se as gerações futuras irão homenagear a data.

"Podemos deixar as desavenças políticas de lado quando lemos os nomes do 11/9, e voltar 364 dias no ano para questionar se devíamos ter feito isto ou aquilo”, afirma Gavriel Rosenfeld, historiador da Universidade de Fairfield em Connecticut. "Tudo se resume ao fato de que a história definitiva do 11/9 não foi escrita, já que ainda a estamos vivendo”.

Contudo, a História sugere – para o bem ou para o mal – que uma narrativa cultural de esperança e otimismo deve, por fim, prevalecer, afirma Alvin Rosenfeld, autor de "The End of the Holocaust" (O Fim do Holocausto, em tradução livre) e professor de Estudos Ingleses e Judaicos da Universidade de Indiana, que também é pai de Gavriel Rosenfeld.

Para exemplificar, Alvin menciona Anne Frank. Embora tenha sofrido terrivelmente durante o Holocausto, todos os filmes e peças americanos feitos sobre ela eram calcados em uma das raras linhas animadoras de seu diário: "Apesar de tudo, ainda acredito que as pessoas tenham um bom coração".

"Se isso é comparável à forma como a memória do Holocausto evolui coletivamente, nós nos lembraremos (do 11/9), mas o tempo tende a dissipar a amargura”, reflete Alvin Rosenfeld. "Os americanos tendem a desejar que as coisas acabem bem, não mal. Gostamos de finais felizes, valorizamos demais a esperança. Não queremos nos deter no passado, especialmente se ele for terrível como o Holocausto e o 11/9/".

Não há um consenso de que a tendência dos americanos de transformar escombros em esperanças seja uma coisa boa. Alguns especialistas a consideram uma atitude ingênua; outros, uma forma de superação.

Mas o otimismo do nosso país aponta claramente para a diferença entre história e memória. E os eventos do 11 de setembro de 2001 podem ter introduzido um espinho naquela disposição eternamente edificante, reflete Gavriel Rosenfeld.

Ele menciona reavaliações recentes da Segunda Guerra, que sempre foi lembrada como uma “guerra boa”.  Atualmente, muitos especialistas estão começando a questionar a verdade subjacente ao termo, argumentando que teria sido muito melhor se não tivéssemos sequer entrado na guerra.

"Creio que o 11/9 foi um divisor de águas no tocante à forma como reavaliamos certos aspectos da história”, afirma Gavriel Rosenfeld. "Desde o 11/9, há um novo ceticismo em relação ao envolvimento da América nas questões globais e ao uso do poder político para atingir seus objetivos”.

Estudos sobre o Holocausto oferecem outras percepções e ajudam a avaliar se o 11/9 será lembrado ou esquecido dentro de 80 anos. Ambos os eventos são considerados atos chocantes e impensáveis, que ocasionaram a perda de muitas vidas inocentes. Mas se comparado às quase 3.000 pessoas que morreram nos ataques do 11 de setembro há dez  anos, o Holocausto ocorreu em escala bem maior, matando quase seis milhões de judeus ao longo de mais de uma década.

Ainda assim, muitas pessoas desconhecem ou se esquecem de muitos detalhes daqueles anos terríveis, afirma Lawrence Langer, autor de "Holocaust Testimonies: The Ruins of Memory" (Depoimentos do Holocausto: As Ruínas da Memória, em tradução livre)

Em uma das maiores atrocidades do Holocausto em 1941, por exemplo, mais de 33 mil judeus foram mortos a tiros e sepultados em valas comuns, durante dois dias e duas noites em Babi Yar, na Ucrânia. Entretanto, poucas pessoas conhecem esse incidente. Dependendo da forma como os atentados de 11/9 se encaixarem em um contexto histórico e político mais amplo, aquele dia terrível também pode desaparecer da nossa memória coletiva.

É fundamental que lutemos para recordar as atrocidades do passado, afirma Langer, e não porque isso evitará futuras tragédias, mas porque os atos de ouvir, aprender e recordar são passos importantes no desenvolvimento da empatia por outros indivíduos e culturas.

Preservar as memórias de eventos traumáticos também ajuda a validar a experiência das pessoas que sofreram diretamente.

"Conhecer um evento histórico faz parte do processo de se tornar uma pessoa civilizada e educada”, afirma Langer, que entrevistou mais de 80 sobreviventes do Holocausto e assistiu a entrevistas com mais de cem.

"As pessoas que entrevistei contam suas histórias porque querem que o mundo saiba o que aconteceu a elas", pontua.  "O fato de alguém saber e se importar com isso valida sua experiência. Não lhe confere significado, mas se ninguém se importa, você é relegado ao esquecimento. Se não recordamos o que aconteceu no 11/9, é como se não tivesse acontecido”.

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Erros do governo e da inteligência americanos não frustraram os ataques do 11 de Setembro de 2001, que, além das Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, tiveram como alvo o Pentágono, em Washington,  e um avião que caiu na Pensilvânia depois que os passageiros tentaram retomar seu controle das mãos dos sequestradores. (Veja infográfico com cronologia dos ataques)

Em Nova York, os problemas no projeto arquitetônico e de engenharia do WTC e as falhas nos procedimentos das equipes de resgate ampliaram o poder dos atentados. Leia, a seguir, uma lista compilada pelo iG dos dez problemas que tornaram os atentados em Nova York ainda mais mortais:
1. erros do governo e da inteligência;
2. estrutura do WTC;

3. disposição das escadas de emergência no WTC;
4. travas nos elevadores do WTC;
5. resistência ao fogo do WTC;
6. plano de retirada do WTC;

7. porta da cobertura fechada no WTC;
8. comunicação entre bombeiros e policiais;
9. problemas nas transmissões dos rádios;

10. falta de plano de emergência.




Foto: AFP

Avião do voo 175 da United Airlines se choca contra Torre Sul do World Trade Center durante ataques do 11 de Setembro em Nova York

1. Erros do governo e da inteligência americanos
"No verão de 1989, um grupo de soldados mujahedin (guerreiros islâmicos), que haviam acabado de vencer a guerra contra a União Soviética no Afeganistão (1979-1989), imigrou para a Ásia Central, Oriente Médio e, finalmente, EUA. Esse grupo tomou conta de uma mesquita no Brooklyn, em Nova York, e escolheu o xeque Omar Abdel Rahman, um fundamentalista egípcio, como líder espiritual.
Em novembro de 1990, o grupo realizou seu primeiro ataque em solo americano, matando um rabino radical, Meir Kahane, em plena Manhattan. Um militante foi preso ao tentar fugir do hotel onde o assassinato havia sido cometido. Em sua casa, a polícia encontrou armas, munição e textos em árabe proclamando a “destruição dos edifícios do capitalismo”. Os oficiais também encontraram fotos de pontos famosos de Nova York, como a Estátua da Liberdade e o World Trade Center (WTC).

O homem foi preso, mas logo considerado um lunático. Os oficiais e policiais deixaram passar evidências de que ele não havia agido sozinho e, na verdade, contava com um grande grupo por trás. A maioria do material em árabe apreendido, na verdade, só foi traduzido vários anos mais tarde.
Os cúmplices do suposto lunático só foram presos três anos mais tarde, depois de levar uma van cheia de explosivos até a garagem do WTC. Ao meio dia da sexta-feira 26 de fevereiro de 1993, uma bomba em uma van deixou seis mortos.”

O trecho acima foi retirado do livro “102 Minutos - A História Inédita da Luta Pela Vida nas Torres Gêmeas”, dos jornalistas Jim Dwyer e Kevin Flynn, e ilustra as falhas na inteligência americana antes do 11 de Setembro. Um ano depois dos ataques de 2001, o Congresso americano, sob pressão do lobby das famílias das vítimas dos ataques, estabeleceu uma independente de investigação por meio da Comissão Nacional 11/9.

O relatório elaborado pela comissão aponta diversas falhas no recolhimento de informação de inteligência e coordenação dos dados obtidos em relação às fronteiras, segurança aérea e reação a emergências. Enormes problemas de comunicação entre a CIA e o FBI em relação a investigações também foram apontados como uma falha.

No documento, a comissão revela que os ataques não foram exatamente surpreendentes para a inteligência americana. Os atentados foram somente o resultado final, e o mais mortal, de uma série de ações iniciadas anos antes, com até alguns agentes os tendo previsto. A comissão descobriu que relatórios sobre as ameaças de um ataque iminente eram claros, pediam urgência e foram apresentados com mais persistência do que o governo americano queria reconhecer.

Alguns desses relatórios, por exemplo, enfatizavam totalmente o papel da Al-Qaeda e o uso que rede terrorista  pretendia fazer de aviões comerciais como armas. A organização dos atentados foi coordenada dentro dos EUA, durante dois anos, e ninguém, nem a polícia nem o governo, os deteve.
De acordo com a Comissão 11/9, o governo Bush recebeu um documento sobre os ataques um mês antes deles, em 6 de agosto de 2001, chamado "Bin Laden Determinado a Atacar em Solo Americano".

Além do WTC, os terroristas também conseguiram jogar um avião contra o Pentágono e sequestrar uma aeronave que caiu na Pensilvânia depois que os passageiros tentaram tomar seu controle. (Veja infográfico com cronologia dos ataques)
2. Estrutura do World Trade Center
Dois fatos permitiram que as torres do WTC, que foram finalizadas em 1973 após quase sete anos de construção, se tornassem dois dos prédios menos seguros do mundo no caso de um incêndio: primeiramente, elas eram propriedade da Autoridade Portuária de Nova York e New Jersey, ou seja, órgão público pertencente a dois Estados que era praticamente acima da lei em relação às normas de segurança. Em segundo, as torres foram construídas seguindo o código de construção de 1968 de Nova York, um dos menos restritos e mais influenciados pela indústria imobiliária.

De acordo com um artigo do jornal New York Times, o código de construção de 1938, anterior ao de 1968, “exigia materiais específicos, como tijolos e concreto, na construção de um prédio alto, para proteger em caso de um incêndio". Além disso, o código de 1938 determinava que as colunas de um prédio tinham de suportar o fogo por pelo menos quatro horas. O código de 1968 reduziu esse número para três, sem especificar qual material teria de ser usado nos prédios.

A flexibilidade criada por ele permitiu à Autoridade Portuária reduzir enormemente o uso de concreto na construção das torres. Segundo relatório do ex-chefe dos bombeiros de Nova York Vincent Dunn, especialista em incêndios em prédios altos, com mais de 43 anos de experiência na sua área, diferentemente da construção clássica de edifícios altos, os pilares fundamentais das Torres Gêmeas estavam concentrados no centro do edifício, juntamente com os elevadores. Além disso, a estrutura era feita de 60% aço e 40% concreto, quando o modelo clássico estipula exatamente o contrário.

Esse tipo de estrutura inovadora realmente absorveu o impacto imeadiato dos aviões, conforme haviam atestado os engenheiros que as construíram. Elas não desabaram imediatamente. Sua estrutura revolucionária, porém, respondeu muito mal aos minutos que se seguiram sob incêndio e calor extremo. “Quanto mais concreto, menos o fogo se alastra”, disse Dunn ao iG.
Cada andar das torres do WTC era praticamente uma área aberta, como passaram a ser os escritórios modernos, sem paredes do chão até o teto. “Esse projeto permitiu que o fogo se espalhasse muito mais rapidamente em cada andar e, disseminando-se pelas saídas de ar do ar-condicionado central, por todos os andares do prédio”, relatou o ex-chefe dos bombeiros.

Como cada andar suportava o peso apenas do andar imediatamente acima, assim que os andares mais altos começaram a desmoronar pela destruição causada pelo fogo, todos os andares foram pressionados consecutivamente. Isso ajuda a explicar por que os prédios desabaram completamente: assim que os andares superiores começaram a desabar, a pressão sobre os andares mais baixos era superior ao que eles podiam aguentar.
3. Disposição das escadas de emergência das torres
Até 1968, todos os prédios em Nova York com mais de seis andares tinham de ter uma saída de emergência adjacente ao edifício, fora da estrutura, e com paredes grossas de concreto para permitir uma retirada rápida e evitar que pegassem fogo. Se o WTC tivesse seguido as normas anteriores ao código de 1968, as torres teriam de ter pelo menos quatro escadas de emergência cada uma, sendo uma delas fora da estrutura principal.


Mas com o novo código de normas aprovado, os proprietários de imóveis podiam reservar mais espaço para salas e conjuntos, e menos para áreas de emergência: cada torre tinha apenas três escadas de emergência, e todas concentradas no centro do edifício. Com o ataque dos aviões, as três escadas de emergência da Torre Norte e duas na Torre Sul foram destruídas e bloqueadas em pelo menos uma parte. Apenas uma escada, na Torre Sul, continuou praticamente intacta depois dos ataques, possibilitando o tráfego as pessoas do topo à base do edifício de 110 andares.


Além disso, duas das três escadas de emergência de cada torre não levavam as pessoas diretamente até a rua, mas até o mezanino (primeiro andar), onde ainda era necessário descer uma escada rolante estreita para chegar às portas da rua. Esse foi um problema grave no momento da retirada no 11 de Setembro, porque uma longa fila se formou no mezanino, e muitas pessoas, impressionadas com o que viam lá fora, paravam e não conseguiam avançar para sair do prédio, impedindo que outros saíssem.

A cidade de Nova York havia mudado uma das regras sobre segurança em prédios altos em 1984, exigindo que as diversas saídas de emergências fossem distantes umas das outras, porém a lei não era retroativa, então o WTC não precisou se adequar.
4. Travas nos elevadores
Dezenas, se não centenas ficaram presos em elevadores nos ataques do 11 de Setembro. Aqueles que estavam presos nos elevadores parados no térreo, e conseguiram ser ouvidas por bombeiros, foram salvos. Outros não conseguiram forçar as portas externas dos elevadores que, por um dispositivo de segurança, ficaram travadas.

De acordo com o livro “102 Minutos", os bombeiros tiveram um trabalho estafante para salvar algumas das pessoas presas, pois tinham de forçar a porta de segurança de cada um dos 99 elevadores de cada torre a cada cinco andares para tentar descobrir onde exatamente estavam parados. Com a escuridão completa na coluna dos elevadores, não conseguiam ver mais do que quatro ou cinco andares.
Um trabalho demorado e pesado, que resultou no não salvamento de algumas vítimas. O código de construção exige aberturas nas paredes das colunas dos elevadores a cada três andares para evitar esse tipo de contratempo, mas o WTC não respeitava essa regra.
5. Resistência ao fogo

A resistência ao fogo das estruturas dos edifícios nunca havia sido posta à prova. “Um dos maiores segredos das torres era que a sua estrutura de aço nunca havia sido testada para saber como reagiria a um incêndio, e um dos maiores segredos do corpo de bombeiros é que um incêndio em um prédio alto é quase impossível de ser apagado pela corporação: o fogo tem de ser extinto pelo sistema automático do próprio edifício”, explicou Dunn, o ex-chefe dos bombeiros de Nova York, ao iG.


Foto: AFP
Torre do Sul do World Trade Center entra em colapso no 11 de Setembro de 2001 em Nova York
O sistema anti-incêndio do WTC (os sprinklers que todo o grande edifício teria de ter) estava velho e precisava de reforma. Depois do ataque de 1993, a Autoridade Portuária começou o trabalho de revisão e troca das peças do sistema, mas, até a manhã do 11 de Setembro, havia completado esse trabalho em apenas 30 dos 220 que os dois prédios totalizavam.

De acordo com as normas de construção de Nova York, a estrutura de aço de um espigão com 60 andares ou mais deve ser capaz de resistir ao fogo sem se deformar por pelo menos duas horas. Os andares em si, por pelo menos três horas. Para respeitar essas regras, os materiais de construção devem ser previamente testados.
As torres nunca tiveram seus materiais testados suficientemente, e, de fato, suas estruturas não resistiram duas horas. A Torre Norte, a primeira a ser atingida às 8h46 daquela terça-feira, entrou em colapso depois de 1h42. A Torre Sul, atingida às 9h03, desmorou passados apenas 56 minutos, às 9h59.
“As razões pelas quais esses testes nunca foram feitos não podem ser descobertas agora, porque os responsáveis por essa decisão morreram anos antes dos ataques. Mas sabe-se que resultados negativos para os testes e as modificações necessárias teriam aumento tanto os custos que as torres possivelmente teriam pouco mais da metade de sua altura. Poucas pessoas poderiam imaginar que o sistema anti-incêndio de dois dos mais altos edifícios do mundo nunca haviam sido efetivamente testados”, afirmam Jim Dwyer e Kevin Flynn no livro “102 Minutos".

6. Retirada completa do WTC
Como as torres tinham um sistema anti-incêndio em todos os andares, não foram planejadas para uma situação em que fosse necessário esvaziar os edifícios completamente e ao mesmo tempo. Como, teoricamente, seus materiais de construção eram resistentes ao fogo e o sistema anti-incêndio apagaria os focos em um andar antes que se espalhassem para outro, a expectativa era de que apenas alguns andares teriam de ser esvaziados em uma situação de incêndio.
A necessidade de uma retirada completa pelas escadas em prédios altos parecia tão remota que, poucos meses antes do 11 de Setembro, dois grupos muito influentes na arquitetura de Nova York, a Associação Nacional de Códigos Oficiais para Edificações e o Grupo de Seguradoras Anti-Incêndio, sugeriram que se começassem a construir escadas de seguranças mais estreitas. Afinal, menos escadas significam mais espaço comercial nos edifícios. A proposta foi completamente abandonada depois dos ataques.

A única vez, antes do 11 de Setembro, que as Torres Gêmeas foram esvaziadas foi depois do atentado de 1993. E, para milhares que participaram daquela situação, a queda da eletricidade depois que a bomba explodiu significou uma retirada lenta e difícil, em escadas de emergências completamente escuras e esfumaçadas por causa dos pneus que queimaram na garagem, e ainda por cima, sem a guia de alto-falantes. Naquele dia, foram necessárias dez horas para esvaziar os dois edifícios completamente.
7. Porta da cobertura fechada
Durante os ataques, as portas que davam acesso ao topo das torres estavam trancadas. Sem opção de fuga por baixo, acredita-se que dezenas acima dos andares atingidos pelos aviões fizeram o esforço de subir até 30 andares a pé em escadas de emergências esfumaçadas somente para ter suas expectativas frustradas.



Foto: AFP
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Bombeiros observam destroços de uma das torres do World Trade Center, em Nova York, depois de seu colapso nos ataques do 11 de Setembro de 2001
Muitos relataram a situação a parentes, após se verem forçados a fazer o caminho de volta. “Os planos de emergências da Autoridade Portuária não continham uma página sequer para resgate na cobertura e (...) nunca informou explicitamente às pessoas que trabalhavam nas torres que o local não era uma opção válida em caso de emergência”, segundo o livro “102 Minutos”.

A Autoridade Portuária mantinha as portas fechadas desde 1974, quando o francês Philippe Petit conseguiu entrar na Torre Sul com a sua equipe sem ser notado, dirigir-se até o teto, estender uma corda de aço até a Torre Norte e caminhar sobre ela várias vezes até ser preso pela polícia de Nova York.
Depois do 11 de Setembro, descobriu-se que os prédios desrespeitavam completamente as regras. As portas poderiam ficar trancadas, mas teriam de ser destravadas por um sistema automático no caso de qualquer emergência ou falta de luz.

Durante o atentado de 1993, no subsolo da Torre Sul, os resgates pelo teto foram os mais noticiados, disseminando a imagem de que era uma das melhores soluções para quem estivesse mais perto do topo de um espigão.
No 11 de Setembro, porém, o teto não seria de qualquer foram uma opção de salvamento. Os helicópteros da polícia não conseguiram pousar porque a coluna de fumaça era muito densa e quente, representando um risco.
8. Comunicação entre bombeiros e policiais

Bombeiros e policiais em Nova York nunca trabalharam bem juntos, segundo o livro "102 Minutos". Seus autores, os jornalistas Jim Dwyer e Kevin Flynn, defendem que sempre houve uma batalha para determinar quem dava as ordens no caso de uma emergência, com nenhum dos lados aceitando ceder. Essa briga de egos explica algumas das falhas que as duas equipes cometeram durante o processo de resgate.
Primeiramente, os bombeiros e os policiais usavam frequências diferentes nos rádios, o que impossibilitou sua comunicação. Isso impediu aos bombeiros na entrada das torres, que tentavam descobrir em que andar ocorriam os incêndios, ouvir as informações enviadas pelos helicópteros da polícia sobre quais eram os focos mais críticos e os andares exatamente atingidos.
Nos helicópteros, os policiais conseguiram mais informações do que os bombeiros dentro dos edifícios. Ao notar enormes rachaduras e um andar pressionando o outro no alto da Torre Sul, souberam com antecedência que ela desabaria. Os bombeiros só se deram conta disso quando ela caiu.

Atualmente, os departamentos dos bombeiros e o da polícia recebem um treinamento mais integrado. Além disso, a prefeitura de Nova York determinou que, em caso de incêndio, são os bombeiros que dão as ordens, mas, em caso de ataque terrorista, os policiais são os responsáveis.
9. Problemas nas transmissões dos rádios
Além do problema das frequências diferentes entre os rádios das duas corporações, os rádios dos bombeiros não funcionavam bem entre si também. Assim que os oficiais subiam alguns andares, perdiam completamente o contato com os chefes, localizados na entrada das torres.


Foto: AFP
Equipes de resgate limpam destroços das torres destruídas no 11 de Setembro no dia seguinte aos ataques em Nova York
Esse foi um problema muito grave porque, assim que a Torre Sul desabou, os bombeiros chefes, na base da Torre Norte, começaram a avisar pelo rádio que todos deveriam sair do prédio imediatamente. Sem receber nenhuma resposta. Naquele momento, mais de 1 mil bombeiros lutavam para conseguir espaço nas linhas de rádio, que eram cinco, mas encontrando forte interferência e poucas respostas para seus pedidos de atenção.

10. Falta de plano de emergência
Os paramédicos e técnicos que responderam ao chamado urgente de resgate não tinham um plano estruturado: em junho de 2005 o Instituto Nacional de Tecnologias e Padrões publicou um longo documento com o que seria considerada a “autópsia” das Torres Gêmeas e do processo de salvamento naquele dia.
Na maioria das 200 entrevistas computadas, paramédicos e técnicos de emergência falam em caos, dificuldades em encontrar as vítimas, falta de comunicação, de coordenação entre as unidades de socorro e até mesmo um grande número de estacionamentos diferentes para ambulâncias na mesma área, dificultando a centralização dos esforços.